Moro revela mensagem de Bolsonaro: ‘Quero apenas a PF do Rio’

Em
maio à Pandemia, o presidente Jair Bolsonaro toca fogo mais uma vez no circo
chamado Brasil e cria crise com a Policia Federal. Apos confusão e pedido de demissão
o ex-ministro Sergio Moro resolve soltar a língua e denunciar o presidente por interferência
indevida na Polícia Federal, órgão que tem o poder de investigar todos os brasileiros
sem exceção, incluindo o Presidente da República e seus filhos.
Em depoimento
de dez páginas, o ex-ministro detalha pressões recebidas do presidente para
mexer na PF bem como a vontade de Bolsonaro de interferir no órgão de maneira
sistemática. As infromações a seguir são do jornal O Globo Brasil;
BRASÍLIA
– O ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou em seu depoimento prestado no
último sábado que recebeu uma mensagem de celular do presidente Jair Bolsonaro
na qual ele teria afirmado expressamente que “queria” a
Superintendência da Polícia Federal no Rio de Janeiro sob sua influência, sem
explicar seus interesses específicos nesse cargo.
Nas
dez páginas de seu depoimento à PF, Moro detalhou as pressões feitas pelo
presidente para trocar cargos da Polícia Federal desde agosto do ano passado,
que incluíam mudar o superintendente do Rio e demitir o então diretor-geral Maurício Valeixo — que
acabou sendo exonerado no mês passado e gerou a crise que resultou no anúncio
de demissão do próprio ministro da Justiça.
Nessa
mensagem citada no depoimento, Bolsonaro teria dito a Moro que o então ministro
da Justiça poderia escolher todos os demais superintendentes da PF, mas que ele
queria definir o nome para o Rio de Janeiro.
“No
começo de março de 2020, estava em Washington, em missão oficial com o Dr.
Valeixo; que recebeu mensagem pelo aplicativo de Whatsapp do Presidente da
República, solicitando, novamente, a substituição do Superintendente do Rio de
Janeiro, agora Carlos Henrique; que a mensagem tinha mais ou menos o seguinte
teor: ‘Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de
Janeiro'”, relatou no depoimento. A
PF tem superintendências em cada um dos 26 Estados e uma no Distrito Federal.
Nesta
segunda-feira, Bolsonaro nomeou o novo diretor-geral da PF, Rolando Alexandre
de Souza, e uma das suas primeiras medidas foi trocar o comando da
Superintendência da PF do Rio. A mudança foi vista por investigadores como uma
corroboração das acusações de Moro.
O
depoimento do ex-ministro foi enviado pela PF na tarde de segunda-feira ao
gabinete do ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), e
juntado ao processo. Transcrito em dez páginas, o depoimento reitera as
declarações feitas por Moro em seu anúncio de demissão e traz novos detalhes
sobre os fatos.
A
defesa de Moro chegou a solicitar mais cedo ao STF que seu depoimento com as
acusações a Bolsonaro fosse publicizado “com intuito de evitar
interpretações dissociadas de todo o contexto das declarações e garantindo o
direito constitucional de informação integral dos fatos relevantes”.
Apesar
do ex-ministro ter entregado seu telefone celular à PF para cópia das
conversas, fontes da perícia da Polícia Federal apontam que esse diálogo era
antigo e ainda não foi localizado no aparelho. O ex-ministro afirma que as
indicações de superintendentes deveriam ser feitas todas pela PF e ele não
escolhia nomes para as superintendências, por avaliar que seria uma
interferência indevida.
No
depoimento, o ex-ministro disse que não sabia as razões pelas quais o
presidente queria indicar um nome de sua confiança para a PF do Rio e afirmou
que isso deveria ser questionado ao próprio Bolsonaro.
Segundo
Moro, a primeira tentativa feita por Bolsonaro de trocar o comando da PF do Rio
foi em agosto do ano passado, de forma verbal, em uma reunião no Palácio do
Planalto. O superintendente na época era Ricardo Saadi.
“Em
agosto de 2019 houve uma solicitação por solicitação por parte do Presidente da
República de substituição do Superintendente da Polícia Federal no Rio de
Janeiro, Ricardo Saad”, diz Moro. Prossegue o depoimento: “Essa
solicitação se deu de forma verbal, no Palácio do Planalto”.
Moro
relata que “pensou em concordar para evitar um conflito desnecessário, mas
que chegou à conclusão que não poderia trocar o Diretor Geral sem que houvesse
uma causa e que como Ramagem tinha ligações próximas com a família do
Presidente isso afetaria a credibilidade da Polícia Federal e do próprio
Governo, prejudicando até o Presidente; que essas ligações são notórias,
iniciadas quando Ramagem trabalhou na organização da segurança pessoal do
presidente durante a campanha eleitoral”.
Questionado
pelos investigadores sobre se ele considerava que as condutas de Bolsonaro
caracterizavam crimes, Moro afirmou que não caberia a ele avaliar isso e que
narrou fatos verdadeiros que ocorreram. O ministro apontou “desvio de
finalidade” na conduta de Bolsonaro sobre a PF.
“Reitera
que prestou as declarações no seu pronunciamento público para esclarecer as
circunstâncias de sua saída, para expor o desvio de finalidade já reconhecido
pelo Supremo Tribunal Federal e com o objetivo de proteger a autonomia da
Polícia Federal”, disse Moro. “Reitera que em seu pronunciamento
narrou fatos verdadeiros, mas, em nenhum momento, afirmou que o Presidente da
República teria praticado um crime e que essa avaliação cabe às instituições
competentes”, afirmou.
Em seu
depoimento prestado no sábado, o ex-ministro também disse estranhar o fato de o
decreto de demissão do então diretor-geral da PF Maurício Valeixo ter sido
publicado com o seu nome na assinatura, apesar de ele não ter assinado a
exoneração do aliado. Segundo ele, isso jamais havia ocorrido durante seu
período no MJ.
“Pedidos
de nomeação e de exoneração são assinados eletronicamente pelo Declarante e
enviados ao Palácio do Planalto (…). Nunca, pelo que se recorda, viu antes um
ato do MJSP ser publicado sem a sua assinatura, pelo menos,
eletronicamente”, disse Moro.