Valença: tudo que é sólido por aqui pode se desmanchar no ar
Se entende por sólido naturalmente, um casamento, um negócio, um imóvel. Em Valença a solidez é uma condição temerária, pois a qualquer momento, uma fofoca, uma atitude sem pensar ou um trator pode levar à destruição qualquer coisa que se entenda por sólida.
O exemplo mais recente, ainda quentinho foi a demolição da casa construída para ser a moradia de Ataliba Lacerda, prédio que conta a história de um período, de uma família, das formas comportamentais em Valença, mas, o que isso importa para quem mandou demolir a casa antiga?
Primeiro é preciso que se saiba, que o autor da demolição, não mora em Valença, não conhece a história do prédio, não tem amor pela cidade, pelo contrário só enxerga as cifras e o retorno econômico para os seus cofres. E quem vendeu a Casa de Ataliba Lacerda, tem consciência do significado desse imóvel “falecido” para Valença?.
A família proprietária do prédio demolido certamente tem consciência, pois sabem o valor que o seu nome representa para Valença, mas e financeiramente como se encontra esse proprietário? Porque se desfez desse imóvel como se ele fosse um lixo histórico e objeto de salvação financeira?
O atual proprietário demolidor apenas comprou um objeto que estava à venda, quem tinha obrigação de preservar o imóvel que era histórico? Os proprietários vendedores que se desfizeram dele sem pestanejar. E o que Valença ganha com isso? A perda de mais um prédio lindo, com uma história interessante, a mudança no visual da cidade que passará a contar quiçá com um prédio cheio de vidros simbolizando a modernidade sem nenhuma beleza nem significado. Apenas um lugar para gerar mais riqueza.
Tudo que é sólido em Valença, pode se desmanchar no ar, toda memória pode desaparecer e todo povo pode perder o fio da história desse município sem sorte que vem sendo vilipendiado por gestores, empresários e pessoas que não valorizam a sua própria história.
É uma grande pena que um imóvel, de certa forma cuidado por seus proprietários seja demolido em nome do enriquecimento do seu proprietário ou de quem o compre. Valença sempre desprezada, por quem deveria se preocupar em protegê-la. A história então, vai se enfraquecendo e tornando branca a memória do povo.
Por Irene Dóres
Fotos: Claudio Lacerda Guerra