Valença destrutiva: quem vai pagar a conta da desmemorização desse lugar
Outra vez os “guardiões” da memória tomam susto e ficam boquiabertos em Valença. Tem outro sobrado histórico prestes a cair. Seus proprietários querem jogá-lo no chão para fazer quem sabe; um estacionamento, uma loja cheia de vidros e cimento armado. Ou que quiçá um sobrado cheio de salas para alugar. Porque na modernidade dos anos 2000 em Valença, a moda é derrubar para transformar em nada ou em imóvel diverso com a finalidade de ganhar dinheiro.
Não estamos falando que ganhar dinheiro é ruim, mas derrubar um imóvel importante, cuja arquitetura remonta um tempo histórico e demonstra por exemplo, como e onde viviam pessoas de poder no município, a imponência de um cargo político como o de prefeito, já que este prédio foi construído para a moradia do então gestor Ataliba Lacerda ainda no início do século XX, conforme escreveu Janete Vomeri, não é uma atitude que fortaleça ninguém.
O filósofo americano Marshall Berman, escreveu no seu livro “Tudo que é sólido desmancha no ar” analisando as mudanças da modernidade baseadas no manifesto comunista estendeu sua análise para as mudanças urbanas que jogavam suas casas antigas no chão para construírem imóveis mais modernos com espaços mais amplos e muitos vidros ao redor. O filósofo criticou bastante as mudanças radicais nas construções que modificaram as memórias visuais da União Soviética em São Petesburgo as quais culminaram com a mudança estética e arquitetônica do Estado.
Parece que Valença mesmo sem conhecer a União Soviética e sem analisar a história do lugar, vai simplesmente derrubando o que pode, para transformar sua arquitetura em estacionamentos ou em nada. A vontade de ganhar dinheiro fala mais forte que o respeito pela história e pela memoria.
Um prédio lindo e bem conservado como aquele não poderia ser demolido para se construir um outro moderno ou nada, existem formas de mudar um ambiente e conservá-lo para a visualização do público. Há cidades na Bahia e no Brasil que conservam as fachadas em homenagem a história do lugar e modificam seu interior para os seus propósitos comerciais sem deixar que a população esqueça daquele imóvel e de tudo que ele representa para o município.
Seria de bom tom que os proprietários do imóvel casa de Ataliba Lacerda situada ao lado da sinaleira do hospital, pudessem ponderar sobre a destruição da historia e da memória de Valença e pensassem em uma forma de reformar sem destruir o prédio histórico.
Por Irene Dóres
Fotos: redes sociais