Presidente do Haiti é assassinado a tiros em casa

 

Premiê
interino diz que ‘um grupo de indivíduos não identificados, alguns dos quais
falavam em espanhol, atacou a residência privada do presidente’ e ‘feriu
mortalmente o chefe de Estado’.

 

O
presidente do Haiti, Jovenel Moise, foi morto em um ataque a tiros em sua casa,
na capital Porto Príncipe, na madrugada desta quarta-feira (7), anunciou o
primeiro-ministro interino do país, Claude Joseph.

O
premiê interino afirmou também que a primeira-dama, Martine Moise, levou um
tiro e foi hospitalizada. A imprensa local diz que ela não resistiu aos
ferimentos.

O
presidente da República Dominicana, Luis Abinader, e a CIDH (Comissão
Interamericana de Direitos Humanos), órgão ligado à OEA (Organização dos
Estados Americanos), lamentaram a morte da primeira-dama. Mas a CIDH apagou a
informação horas depois.

Crise
política

Moise
dissolveu o Parlamento e governava por decreto há mais de um ano, após o país
não conseguir realizar eleições legislativas, e queria promover uma polêmica
reforma constitucional.

A
oposição o acusava de tentar aumentar seu poder, inclusive com um decreto que
limitava os poderes de um tribunal que fiscaliza contratos governamentais e
outro que criava uma agência de inteligência que respondia apenas ao
presidente.

Ele
dizia que ficaria no cargo até 7 de fevereiro de 2022, em uma interpretação da
Constituição rejeitada pela oposição. Para eles, o mandato do presidente havia
terminado em 7 de fevereiro deste ano.

Em
fevereiro, autoridades do país disseram ter frustrado uma “tentativa de
golpe” de Estado contra o presidente, que também seria alvo de um atentado
malsucedido (veja no vídeo abaixo).

 

Mais
de 20 pessoas foram presas na ocasião, inclusive um juiz federal do Tribunal de
Cassação e a inspetora-geral da Polícia Nacional.

Problemas
desde a eleição

A
disputa sobre o fim do mandato era consequência da primeira eleição de Moise.
Ele foi eleito em outubro de 2015 para um mandato de cinco anos, em um pleito
cancelado por fraudes, venceu uma nova disputa no ano seguinte e tomou posse
apenas em 2017.

Moise
foi eleito com 600 mil votos em um país com 11,3 milhões de habitantes. Pouco
conhecido antes das eleições, ele conseguiu vencer com o apoio do ex-presidente
Michel Martelly.

Eleições
legislativas e municipais estavam agendadas para ocorrer neste ano, mas foram
adiadas para 2022. Com o vácuo de poder, Moise manteve a posição de continuar
no cargo por mais um ano, apesar das críticas da oposição.

Pobreza
extrema

O
Haiti é a nação mais pobre das Américas e tem um longo histórico de ditaduras e
golpes de Estado. Nos últimos meses, enfrentava uma crescente crise política e
humanitária, com escassez de alimentos e violência nas ruas.

O PIB
per capita do país é de US$ 1,6 mil por ano (cerca de R$ 8,5 mil), e cerca de
60% da população vive com menos de US$ 2 por dia (pouco mais de R$ 10).

O
Haiti tem 11,3 milhões de habitantes, faz fronteira com a República Dominicana
na ilha Hispaniola, no Caribe, e tem um dos menores IDHs (Índice de Desenvolvimento
Humano) do mundo: 0,51.

Colonizado
em 1492, após a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Haiti foi o primeiro
país do continente a conquistar a sua independência e a primeira república a
ser liderada por negros, quando derrubou o domínio francês no começo do século
XIX.

O país
já foi invadido e sofreu intervenção dos EUA no século XX e tem um longo
histórico de ditadores, como François “Papa Doc” Duvalier e seu
filho, Jean-Claude “Baby Doc”. A primeira eleição livre do país
ocorreu em 1990, mas Jean-Bertrand Aristide foi deposto por um golpe no ano seguinte.

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