Horário gratuito do eleitor na tv Globo

Por: Alfredo Ribeiro


Com
o projeto “O Brasil que eu quero”, a Globo inaugurou na TV o horário eleitoral
gratuito para quem não é candidato a nada. O modelo é um pouquinho menos
engraçado que o velho formato original que o TRE concede à baboseira das
campanhas políticas. Na melhor das hipóteses, é igualmente insuportável.
Com
direito ao constrangimento dos comentários que os âncoras dos telejornais são
obrigados a fazer a respeito da chatice que acabamos de assistir. Todos os
dias, a cada noticiário da Globo, os pobres coitados destacam a importância de
uma entre tantas platitudes repetidas à exaustão – sempre com a câmera do
celular em posição William Bonner – para definir o país que todos esperam.

Que
país é este? A julgar pelo horário político do eleitor criado pelo Jornalismo
da Globo, do Oiapoque ao Chuí o brasileiro não tem mais que 15 ideias de uma
obviedade rodriguiana para consertar toda esta porcaria que aí está. Querem um
país sem corrupção, desigualdade, preconceito, intolerância, desmatamento,
obras públicas inacabadas ou fome; com saúde, educação, trabalho, estradas bem
cuidadas, respeito, segurança, lazer e duas mariolas (confere aí, por favor, se
deu o total de 15 desejos pátrios).
É
mais ou menos o que a gente escuta a cada temporada da propaganda política obrigatória
na TV, sem a palhaçada dos candidatos bizarros de todo pleito. Não tem tiririca
no horário gratuito do eleitor da Globo, mas a banalidade dialética dos
programas é a mesma. Não à toa uns elegem os outros. É falsa a tese de que o
Brasil é uma coisa e o brasileiro, outra. O Brasil é o brasileiro cuspido e
escarrado: diz uma coisa e faz outra.
Mas
não precisava a Globo tornar isso tão evidente como está ficando a cada edição
de “O Brasil que eu quero”. Se você também não aguenta mais o horário gratuito
do eleitor, calma, 31 de agosto volta a propaganda política obrigatória na TV.
Até as eleições de outubro, as duas vão ficar no ar. Prepare-se!
Alfredo
Ribeiro é jornalista, coordenador de internet do Instituto Moreira Salles. Seu
alterego, Tutty Vasques, nascido em 1986, ainda é um dos melhores e mais
bem-humorados cronistas do Rio. Este texto foi publicado originalmente na
página pessoal de Alfredo no Facebook e está sendo republicado no blog a meu
pedido.

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