AS VIDAS DE SÉRGIO MACHADO E DELCÍDIO DO AMARAL APÓS SUAS DELAÇÕES

O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, que em cinco anos acusou mais de 500 pessoas por envolvimento em corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes. Foto: Paulo Lisboa / Brazil Photo Press
O procurador Deltan Dallagnol, coordenador da Operação Lava Jato, que em
cinco anos acusou mais de 500 pessoas por envolvimento em corrupção e lavagem
de dinheiro, entre outros crimes. Foto: Paulo Lisboa / Brazil Photo Press

Bilhões
recuperados e condenações que somam mais de 2 mil anos conseguidas pela Lava
Jato ofuscam a vida tranquila de delatores da operação que forneceram
informações de valor restrito.

Tudo começou a
partir da apuração sobre o uso de um posto de gasolina de Brasília para lavar
dinheiro de doleiros que abasteciam as contas de partidos e políticos. De lá
para cá, mais de 500 pessoas já foram acusadas, houve mais de 130 denúncias
criminais e cerca de 50 sentenças. Somadas, as penas alcançam mais de 2.200
anos de prisão. Entre os prisioneiros estão um ex-presidente da República, um
ex-governador do Rio de Janeiro e um ex-presidente da Câmara dos Deputados.
Somente em Curitiba, a sede da primeira operação, foram 1.200 mandados de busca
e apreensão cumpridos em 60 fases, com 155 pedidos de prisão preventiva
atendidos pelo Judiciário. Isso sem contar as operações em Brasília, Rio de
Janeiro e São Paulo. O dinheiro recuperado quase chega à cifra de R$ 14
bilhões. O sucesso da força-tarefa foi tão grande que catapultou o juiz Sergio
Moro ao posto de atual ministro da Justiça.


A Lava Jato
proporcionou em cinco anos um novo programa aos brasileiros: um instrutivo
passeio pelos meandros da máquina de corrupção nacional, que se assemelha à
visita a um oceanário. Abriram-se diante dos olhos, em distância que se
imaginava impossível de chegar, predadores e presas desfilando num ambiente
próprio de vida e morte, sem constrangimentos ou incômodo com a plateia. Nunca
se reuniram tantas provas e indícios de crimes contra grupos econômicos e
políticos tão fortes e amplos. Não foram poucas, no entanto, as restrições
contra o modus operandi da empreitada. A operação e seus executores foram
acusados de violações contínuas que prestaram monumental desserviço à cultura
de valorização dos direitos individuais no Brasil. O sucesso e o ineditismo da
operação encobriram, por exemplo, casos de colaborações com resultados pífios —
pelo menos até agora.
Na República das
Delações na qual o Brasil se transformou nos últimos cinco anos, duas
prometeram implodir dois dos principais partidos. Em 2016, as acusações de
Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, empresa de transporte da
Petrobras, prometiam acabar com o MDB. A confissão de Delcídio do Amaral, então
senador petista, também em 2016, parecia ser o fim do mundo para o PT. Passados
quase três anos, ÉPOCA foi investigar como vivem Machado e Delcídio e os
resultados das duas delações mais citadas pelos críticos do instrumento da
delação premiada.

Em Fortaleza, a
reportagem encontrou um terreno cercado por largos muros de pedras com seis
camadas de cabos eletrificados no topo, uma guarita suspensa de onde o vigia
pode enxergar toda a redondeza e, ali perto, a imensidão do Oceano Atlântico.
Essa poderia ser a descrição de uma cadeia de segurança máxima em alguma ilha
deserta. Mas, dos muros para dentro, uma mansão com quadras poliesportivas, um
cata-vento gigante para produção de energia eólica, piscinas e várias
construções luxuosas na verdade é a gaiola de ouro onde vem se escondendo, nos
últimos dois anos e nove meses, o homem bomba do MDB, Sérgio Machado. A
confissão, em maio de 2016, feita por meio de uma delação premiada, entretanto,
não lhe rendeu um só dia de prisão, e, passados quase três anos, a investigação
caminha a passos lentos no Judiciário. Machado nem sequer tem o incômodo da
tornozeleira eletrônica.
Já o ex-senador
Delcídio do Amaral, de Mato Grosso do Sul, tornou-se colaborador da Lava Jato
depois de descrever em 21 depoimentos crimes sendo cometidos por figuras como
os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Aécio Neves. Após
ser cassado pelo plenário do Senado Federal, em placar acachapante — 74 votos a
um —, abandonado por seus pares, decidiu colaborar com a Justiça.

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